O caso é que por aqui, na Europa, as pessoas reconhecem os seus pela sua descendência. Por uma função histórica, penso, porque sempre foram vários povos e viajavam de um lado ao outro e tudo o mais, e claro, antigamente não tínhamos burocracias nem passaporte, consulados, imigração. Se andava à cavalo por aí tudo, ao ser indagada sobre sua identidade, se respondia: - Sou Giuseppe, filho do Francesco, o Sapateiro, casado com Edit filha do Livreiro. E assim se identificava uma pessoa. Nós, no Brasil, não estamos habituados com isso, porque, não sou historiador nem antropólogo, mas penso que por termos sido colonizados, e ainda por ser uma terra de ninguém nos tempos antigos (só nos antigos?). Pra resolver este problema de quem é Brasileiro, os nossos amigos que faziam as leis por lá então, legislaram: Quem nasce em terras Brasileiras, é brasileiro! Isso resolveu um monte de problemas, imagino, pois quantos povos, desde escravos, ladrões, fugidos , expulsos, imigrantes, como conta a história que nos ensinaram na escola, iam pra lá, constituíam família e nenhum outro lugar ou instituição os queria de volta ou muito menos leva-los de volta, ou ainda eles mesmos não tinham condições de sair por vontade própria. Uma solução política, para um problema político, assim como nossa história! Reconhecemos os nossos por terem nascido em nossas terras.
Por aqui, eles reconhecem os seus por sua descendência. Sendo assim, como sabia das origens da minha família, fui atrás da minha cidadania italiana pra ser livre pra transitar por aqui, afinal, embora goste muito do Brasil a gente sempre procura novos horizontes e tudo o mais. Eis que se enfrentam alguns problemas, porque todo aquele papo romântico ali de cima não é bem assim, alguns lugares na Itália não nos recebem bem, muitas vezes somos discriminados e de certa forma nos sentimos um pouco aproveitadores da situação, porque afinal, somos brasileiros e corremos atrás de uns documentos que nos facilitem a vida aqui no mundo dos ricos. Tudo bem, compreensível, afinal quem são esses caras lá do outro lado do oceano que vem aqui querer ser o que somos, sentimento um pouco racista, mas ninguém é perfeito e nem é obrigado a aceitar as coisas, enfim...bla bla bla...compreender não significa concordar.
Meu passaporte brasileiro venceu. Então, pensei, não dá nada, sou Brasileiro, e volta aquele sentimento de que neste caso, não estou nem me aproveitando de nada, sou mesmo!! Beleza, coisa linda, aquela coisa, coisa e tal. Bom, descobri que só posso entrar no Brasil com meu passaporte Brasileiro, mesmo que eu tenha outra nacionalidade. Meu passaporte brasileiro só vale na fronteira e só ele vale, nem meu passaporte italiano vale lá, porque consta que sou nascido no Brasil e neste caso, sou obrigado a apresentar meu passaporte válido brasileiro. Ele, o passaporte Brasileiro, não é um documento de identificação válido dentro do Brasil só vale na fronteira, e o pior, pra renova-lo aqui no consulado brasileiro, preciso, além do passaporte antigo, de certificado de reservista, título de eleitor, comprovante de voto na última eleição (todos documentos essenciais e que você nunca vai esquecer de colocar na bagagem), e de um outro documento de identificação válido como identidade brasileira, certidão de nascimento, ou seja, o passaporte antigo não vale como identificação! Então, se alguma coisa acontecer comigo, e não tiver passaporte brasileiro, e chegar no Brasil, e não tiver meu passaporte, eles não me deixam entrar, vão fazer o que, me deportar? Pra onde? Ufa, sorte, pelo menos me mandam pra Itália. Sorte a minha, mas quem não tem, imagino que deva ser lançado no mar, ou no mínimo tenha que ficar lá aguardando algum procedimento que provavelmente leve horas! Nascido, descendente, amancebado, conjugado, dado, ou qualquer M.. dessas são apenas um conjunto de papeis da vida. Ou seja, eu mesmo instituo, eu mesmo legislo, eu mesmo assino e eu mesmo permito e compro uma metralhadora, e assim já me sinto mais importante, faço cara de que isso é uma coisa muito séria, e pronto! Só entra em Marte quem tiver este papel, se não, deporto para Terra, se resistir, metralho!!
Juliano Binder