Antes de começar a “biritar cronicamente” preciso dizer que estou em Tel Aviv estudando e o Binder me chamou para compartilhar algumas impressões israelenses de um brasileiro aqui neste blog coletivo que é aliás uma idéia muito bacana. Vida longa ao “Biritas Crônicas”!
Entre algumas das estranhisses com que tenho me deparado aqui está –além também de “monólogos coletivos” (usando a expressão do nosso co-autor Caresia, no post ali embaixo) que poderei descrever mais adiante, por que aqui também tem doido que fala sozinho (além de mim mesmo, assim também como o Binder) e em hebraico, é claro--, o funcionamento de certas instituições públicas, como o correio. Isso decorre da forma como esta sociedade aqui se organizou, se formou e vem se desenvolvendo. Sempre digo e repito, imaginem vocês que esse país aqui ainda não fez 60 anos. Isso tem um monte de conseqüências e, contra elas, não adianta na minha opinião vir com a justificativa de que a cultura judaica é milenar, pois não estou falando de judaísmo, mas de israelenses, coisas que faço questão de separar, mesmo sabendo que em muitos casos não são separáveis.
Bom, mas me aconteceu de experimentar o quanto é difícil de se mandar um cartão postal aqui em Israel e também hoje em dia. Muito mais do que "hoje em dia", aqui em Tel-Aviv é tão complicado de se conseguir botar um postal no correio que... como se não bastasse a dificuldade toda devido aos tempos atuais, o correio aqui em Israel... e não é apenas pela minha experiência que digo isso, já vi e ouvi mais de um cidadão israelense reclamando do correio daqui.
Primeiro de tudo, achar um postal a venda. Onde? Em Ramat Aviv (o bairro em que moro) não existe um lugar sequer em que seja possível de se encontrar um. E eu procurei: shoppings, papelarias, correios, livrarias, etc. Nada. E o curioso é que Israel é um país com grande influxo de turistas. Imaginei então que em algum lugar deveria haver os tais postais. A minha landlady aqui em casa ri de mim dizendo que hoje em dia ninguém mais manda postais. Fui persistente, mas agora eu entendo. Se vocês soubessem o que estive fazendo pra mandar uns meros postaizinhos... No dia de hoje ainda, tive mais um capítulo da novela.
Mas, voltando à parte em que eu ainda não tinha os postais... Finalmente consegui encontrá-los a venda no centro da cidade. Comprei os postais. Tudo bem, agora era só colocá-los no correio. Antes fosse simples assim. A começar pelo fato de que eu tinha que escrever alguma coisa neles, afinal estava (estou) mandando para os amigos e conhecidos. Foi então que descobri que não sabia mais o que escrever em um postal. Experimentem vcs mesmos. Acho que de tão acostumado a escrever emails, vários por dia, alguns tipos de textos ficaram obsoletos ou esquecidos e, como não praticamos, esquecemos ou desaprendemos. Fiz um esforço e comecei a "preencher" eles.
Outra questão que surgiu foi a dos endereços. Eu tinha que conseguir os endereços das pessoas pra quem queria mandar os postais. Para conseguir isso tive que mandar emails, vários a várias pessoas, pedindo endereços. Tive que anotá-los e depois passar para os cartões. Não mencionei nada a respeito do fato da escolha dos cartões. Geralmente, todos sabem (ou sabiam, quando ainda se mandava postais) que as fotos de postais são sempre um tanto ultrapassadas, antigas e as vezes meio antiquadas, curiosas sempre. Aqui de Tel-Aviv até que consegui encontrar algumas bastante recentes. Algumas mostrando Yafo (Jaffa) junto com Tel-Aviv, interessantes.
Depois disso conseguido e arranjado, fui procurar selos no correio para botar nos postais. Quando comprei os postais, alguns vendedores me ofereceram selos (1 sheqel e 0,50 agorot), comprei alguns. Quando cheguei no correio descobri que a postagen para o Brasil era de 4 sheqels e 0,50 agorot. Tudo bem, comprei outros selos para completar aqueles postais que tinham apenas 1,50 e outros selos de 4,50. Aí a coisa começou a complicar novamente. Fora os selos, tive que botar uma etiqueta de "via aérea" (ou doar avir em hebraico) e o espaço no postal para dizer alguma coisa começou a ficar escasso.
Depois de colocar alguns selos por cima de certas partes que eu já havia escrito antes dos selos, resolvi que para os outros postais iria comprar e colar os selos antes, junto com a etiqueta de via aérea, e depois escrever. O bom disso é que sobraria menos espaço e eu não teria muita dificuldade em "preencher" os postais, afinal, por que deveria escrever muito?, apenas um "Um alô de Tel-Aviv", "Saudades", etc. E de repente me dei conta de que a brincadeira estava começando a ficar cara! Um postal, mais selos, e o trabalho todo, quanto custaria isso tudo? Muito mais caro que um email, sem dúvida, ou um postal eletrônico, desses que temos aos montes pela internet. Preferi não pensar nisso, afinal, mandar um postal virou uma coisa rara, e adquiriu até mesmo um certo charme e, espero, que a alegria de quem os vai receber; além de que como já disse, depois de passado o pasmo com a dificuldade, o negócio se tornou uma brincadeira divertida e que me rendeu até mesmo este post aqui.
Antes de passar ao último capítulo, o de hoje, em que tive mais surpresas, preciso mencionar o fato dos correios aqui funcionarem em horários variados e estranhos. Por exemplo: domingo das 8 as 2, segunda e terça das 3 as 6, quarta das 8 as 11:30 e das 3 as 5:30. Estou inventando um pouco, mas é para dar a sensação que tive às várias vezes que fui no correio e dei com a cara na porta. Bom, hoje o último capítulo.
Hoje é sexta, vai começar o shabat, então tudo funciona só até as 3 horas da tarde. O correio não sei, arrisquei, fui até lá. Estava aberto, dei sorte. Fui no guichê e para minha surpresa o cara me falou que não era 4,50 a tarifa, mas sim 5,25. E agora? Eu disse que a mulher do guichê do lado tinha me dito que era 4,50 e eu já tinha mandado vários postais com 4,50. Ele virou-se para o lado e perguntou à mulher quanto era. Começou uma discussão. Era, não era, etc. O cara se levantou foi perguntar não sei onde não sei pra quem. A essa altura eu sentia um misto de vontade de chorar com vontade de rir. Resolvi rir em português. Volta o cara. Era mesmo 5,25 e a mulher tinha se enganado. E agora? perguntei. Os postais que mandei com 4,50 vão voltar? "Não, não, não" ("Lo, lo, lo" em hebraico) me disse a mulher, eles vão assim mesmo, ela me disse sem muita convicção. Resultado, para encurtar a história que ja está grande demais, tive que comprar mais selos no guichê do lado, com outro cara, porque onde eu estava a fila ja estava grande atrás de mim. Tive que explicar pra ele que eu tinha selos de 4,50 e que precisava completar com 0,75 cada postal, para dez postais eu disse. Ele me deu vários selos pequenos de 0,30 e 0,10 agorot porque não tinha selos de 0,75.
Resulta que os postais agora ficaram com menos espaço ainda para ser "preenchido", pelo menos com mais selos, que no fim eu acho legal. Não mencionei que um dos postais iria para a Argentina, e vou mandar com 5,25 mesmo. O curioso nisso tudo, é que o pessoal do correio não sabe quanto é a tarifa de um postal, pois ficaram discutindo que era diferente do preço da carta, e mais um monte de coisas. Não comentei nada aqui a respeito de uma outra "odisséia" que passamos eu e a Clara, quando ela resolveu me mandar uma surpresa de aniversário pelo correio. Depois de muitos telefonemas atrás do pacote, várias idas ao correio e muitas discussões e de ter pedido para alguém que falasse hebraico interferir, um mês depois de chegado o pacote em Israel consegui receber ele em casa, mas não sem antes passar por uma pequena confusão com o carteiro, porque o interfone aqui do apartamento não funcionava direito. Amém.
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4 comentários:
Grande Defa!!!
Seja bem vindo!!!
Essa mesmo foi boa!
J
"Odisséia" é elogio, tá mais pra processo kafkaniano. Por falar nisso, uns meses atrás fui numa exposição na Caixa Cultural aqui em sampa sobre gravuras baseadas no conto "Relatório para a Academia" do Franz Kafka, e peguei um postal da exposição, com uma gravura estampada e tal. Mas e aí, mandar pra quem? escrever o que? Preferi guardá-lo. Já você, foi corajoso.
He, he, he. Kafka aliás, se não me engano, era judeu, não? Mas o que isso tem a ver com a história?
Se você já leu O Processo de Kafka então deve ter entendido a piada (ou não?). o que conta é o absurdo da burocracia. Mas achei legal de tua parte enviar um postal pelo correio, algo que pouca gente ainda faz. Tá afins de trocar um postal? Te mando aquele da exposição, com uma gravura do conto, e tu me mandas um postal daí. É só mandar o endereço.
O meu é Rua Artur Virtanem, 59 - Bairro Vila Nova Cachoeirinha, CEP 02567-100 - São Paulo-SP - Brasil.
O nome é Roberto Caresia.
Podemos combinar de postar o bicho no mesmo dia, só pra ver qual chega primeiro.
Kafka era judeu sim, nasceu perto de Praga, se não me engano, e escreveu tudo em alemão.
falô
Caresia.
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